quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Camisinhas nas escolas públicas

Num dia desses ingressei numa conversa sobre a distribuição de preservativos na rede pública de ensino. Aliás, raras vezes encontra-se pessoas interessadas em debater tais assuntos por livre e expontânea vontade, mas isso será tema de outra postagem. Aqui vai uma breve análise da situação geral.
Fato é que a distribuição das camisinhas gerou polêmica. De um lado, defende-se a integridade moral do jovem, acusando um possível incentivo à prática sexual. De outro, encontra-se o apelo para o uso do preservativo nas relações sexuais, visto o largo número de jovens grávidas e a constante luta contra as doenças sexualmente transmissíveis. E ainda existe aquele grupo que não está nem de um lado e nem do outro, que não quer saber de nada; mas esse grupo não interessa para essa postagem, insisto.
O incentivo à prática sexual não acontece com a distribuição de preservativos na escola ou em qualquer lugar que sejam distribuidos. Quando se fala em distribuição de preservativos, presume-se que todo o trâmite para que se chegue na relação sexual já aconteceu, ou que todo o aparato necessário para que ocorra a transa, desde o “estímulo” da prática até a possibilidade de consumação do ato, existe em algum lugar acessível para o jovem.
Se existe esse acesso, por que não aprimorar o acesso à informação e à prevenção?
O verdadeiro incentivo que o jovem encontra não é nada menos que um reflexo da sociedade em que vive. Não é somente de dentro das escolas que o jovem encontra justificativas/ estímulos para iniciar uma vida sexualmente ativa. As mídias trazem um teor sexual em propagandas e novelas de inúmeras formas. Progamas de televisão possuem o apelo sexual como forma de fomentar a audiência. Outdoors, cartazes e até anúncios em ônibus exploram o corpo humano de forma sensual, usando esse apelo para atrair a atenção do público consumidor, o que também compreende os jovens e crianças. Em certos casos, não é preciso nem olhar tão longe (longe = televisão). Basta olhar para o sofá ao lado que se encontra justificativas (ou carência de informação) para iniciar-se numa vida sexual ativa.
Outra coisa: não é na escola que o jovem decidirá se fará sexo ou não. Essa questão é algo que deveria ser tratado em casa, pelos pais. Mas, enquanto houver essa delegação de funções que a Família joga para a escola, não teremos muito progresso na educação de nossos jovens.
Além de sexo ser bom e ser utilizado como um fim em si mesmo, o que já é justificativa mais que suficiente para a maioria, o jovem, inicialmente do sexo masculino mas não somente do sexo masculino, é inserido num contexto que reza que quanto maior o número de relações sexuais alcançadas, ou conquistadas, maior será o status dentro do grupo em que vive.
Agrumenta-se que escola não é lugar para distribuir preservativos, pois o serviço já é realizado nos postos públicos de saúde. A distribuição nas escolas gerará uma banalização do sexo.
Esse agrumento é provável. Porém, é inegável que se possa afirmar que a distribuição pelos postos públicos de saúde não tem atingido uma eficácia razoável quando se trata do público alvo dessa postagem. O jovem não vai até a camisinha. Pelo menos não ia. O jovem também não possui as melhores ferramentas para lidar com o jogo da sedução, sendo que, diversas vezes, é impossível prever quando será necessária a posse de um preservativo. Ter o acesso facilitado é favorecer a prevenção nas mais variadas circunstâncias.
Eu cursei o Ensino Fundamental integralmente nas escolas públicas, especificamente da quinta à oitava série, na escola Pio X de São José do Rio Preto. Hoje conto com 21 anos. Inúmeras vezes recebi dentro das salas de aula, em palestras, aulas e diversas ocasiões, preservativos das mãos de palestrantes. Até a oitava série, então último ano antes do Ensino Médio, fui diversas vezes informado dos riscos de uma relação sexual desprotegida. Isso ajudou muito na minha formação, mas não se compara com a imensa carga de informação que recebi dentro de minha própria casa, pela qual serei eternamente grato.
Acima de tudo, a mais importante conquista que essa atitude do Progama Nacional de DST e Aids teve foi o fomento ao debate. Mais do que levar a camisinha para os jovens, o Estado levou a discução, o questionamento. Levantar a população para debater o assunto pode ser o passo mais difícil e mais importante de uma grandiosa batalha contra a gravidez precoce e indesejada, contra a má-formação dos jovens, contra a expanção de doenças relacionadas ao sexo e a favor de um futuro melhor para nossos jovens. Está de parabéns essa iniciativa.
Eu já debati isso com meus conhecidos e continuo o fazendo. E você, fará parte dessa conquista? Basta um dia na sua vida para participar de uma mudança para melhor, não custa muito.